terça-feira, 12 de julho de 2011

- Girando.

Um senhor estava sentado em um banco isolado numa praça vazia, parecia estar observando o céu nublado, tão branco quantos seus cabelos, era como se o céu fosse uma folha de papel, vazio.
Sentei-me ao seu lado e fiquei a observar o céu também. Ele resolveu conversar.
- Sabe, o tempo flui rápido demais. Parece estar tudo na velocidade da luz.
~ Mas o céu sempre continua devagar, na velocidade dele.
- Tão diferente do vento, que corre sem saber aonde ir.
~ E o céu sempre sabe onde está.
- Essa tranquilidade e esse poder que o céu possui, sempre me ajudou.
~ Como?
- Em minhas mãos, eu levo opressão e tristeza. Há muito tempo atrás, eu me encarregava da escuridão, era tudo muito diferente de como é hoje. A única coisa constante em minha vida, foi este céu nublado.
~ Difícil imaginar. O que fazia? És algum veterano de guerra?
- Não, meu jovem. - O senhor soltou uma leve risada, mostrando as mãos calejadas e com algumas cicatrizes. - Não se deixe confundir pelo desconhecido. Sabe, um dia minha mente se separará de meu corpo, e eu preciso de alguém para guiar.
~ Guiar o que? Do que falas?
- Existiu sim uma guerra, meu filho. Eu era conhecido com o homem da espada vermelha. Mas esta guerra, não era como as atuais, cheias de bombas e artilharias. Eu ficava na linha de frente.
~ Espada vermelha, suponho que seja de sangue, certo?
- Jovem esperto.
~ Você era algum tipo de espadachim?
- Não, meu jovem. Era uma guerra inimaginável para as pessoas de sua geração compreenderem. Ela não está escrita em livros de história, poucos sabem de sua existência.
~ Por que ninguém fala dela?
- Os deuses não permitem.
~ Deuses existem?
- Claro, meu filho. - Ele sorriu e olhou para o céu. - Espero que eles não me castiguem muito, estou vivo há tanto tempo que não tenho mais noção dessas coisas.
~ Quantos anos o senhor tem?
- Se eu lhe dissesse, você não acreditaria. Então de que adianta falar? - Ele me olhou, sem nunca perder o sorriso que lhe adornava os lábios. E então, levantou-se. - A gente se vê. - Fez um leve cumprimento e desapareceu em meio a neblina.
Fiquei ali, sentado, pensando por um bom tempo.
Acho que ele ainda tem algo a me contar.
Ajeitei meus óculos e fui embora.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

- Flor azul.

Essa fumaça que a gente engole
Mais um dia de agonia
Ah, nem os deuses poderiam pagar-lhe
O amor bem-feito, esnobe
Eu poderia cair mais uma vez, sorrir
Um dia desses eu vi meu reflexo
Mandou-me lavar o rosto
Vestir um fato de bom gosto
Deixe a festa acabar para se arrumar
Paguei dois trocados por este punhado de ar
Arrumei a gravata
E andei como uma mulher
Os zumbidos altos
As buzinas insistentes
As moscas que me rodeiam
As mesmas que pousam nos putrefatos
Me dê mais um gole desta bebida amarga
Que o juízo não quero ter mais
Sem um amor para me empenhar
Sem bandidos para procurar
Ando no escuro, procurando algum motivo
Então desafine a viola
Eu não preciso de um canto para cair morto
Só de um sorriso
Me deseje um bom dia
Para sempre serei o forasteiro
E mesmo sem voz
Continuarei a cantar
Talvez o mundo não seja tão pequeno
Então eu farei uma trova
E em quatro versos, direi
Fechei-me em minha alcova
Para fugir deste mundo que criei.