sábado, 18 de setembro de 2010

- Prelude Of A Sin.

Havia um homem, um sobretudo negro e um chapéu combinando.
Ele virou-se para mim e disse:
"É uma grande ironia, nesse dia lindo com um sol brilhando forte. Bom dia."
E desapareceu.
Eu pensei no que ele disse.
Realmente, os dias claros e belos, são sempre uma ironia muito grande.
Quando foi meu último dia de sol feliz? Não faço idéia.
Talvez até faça, mas agora não importa.
E minha noite, mais perfeita, bela, feliz?
Essa eu lembro, com certeza absoluta.
Estava frio. Temperatura abaixo de zero. Mas eu não sentia frio algum.
Na verdade, sentia calor. Muito calor.
O fogo estava me queimando loucamente. Intenso, propenso.
Posso lhe contar uma coisa?
Seu reflexo no espelho, é apenas obra de sua imaginação.
Era tarde, eu via seu reflexo embaçado no espelho, ela gritava.
Não tinha outros sentidos, coloquei minha mão suavemente em seu rosto.
Acariciei, passei para sua boca.
Eu parei sua respiração com minha própria mão.
Adeus.
Eu ouvi passos em minha direção, eu acordei.
O inverno começava a dar seus primeiros passos.
As folhas secas aumentavam a nostalgia daquele clima. O vento frio.
Enquanto eu não estivesse acordado desse sonho, eu não poderia dormir em seus braços, deixando-o vigiar meus sonhos mais profundos.
Era um pecado sem igual.
Eu apertei sua mão com força, desejando inconscientemente que nossas mãos nunca se soltassem.
Sua voz sumia aos poucos, minha visão distorcia.
Eu tentei sorrir, dei um beijo em seu rosto.
Ela desapareceu.
Um castelo.
Sangue para todos os lados.
Era o sangue da eternidade.
Derramado, desperdiçado, acabado.
Outra poesia veio em minha mente. Mas a tristeza me abalou.
Olhei para fora, uma chuva intensa.
Romanticamente visto, era um coração.
Um coração imundo.
Um coração inundado de pecado.
Um coração feito de lágrimas.
O maior pecado?
Ter sido carregado pelas mãos calejadas de uma criança sem vida, para o colo de outro amante.
Uma voz profunda e grave falou com um eco.
Beba, minha criança.
Era o beijo da morte, frio e sem amor, como sempre fora.
A dança da tristeza e do amor.
A fé era uma faca de dois gumes.
Preenchia o vazio de meu coração, enquanto o esvaziava mais ainda.
Dance meu amor, dance.
Não há mais nada aqui para ser degustado.
O gosto do pecado continuava em minha boca, a textura de seus lábios, estava gravada nos meus.
A lembrança de uma vida estava encrustada em meu coração.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

- Undecided Memories.

Eu estava perto da praia, continuava minha viagem, sozinho, como sempre.
O sol estava por desaparecer, era como se estivessem cegando-me.
Me aproximei da água, deixei as ondas quebrarem-se em meus pés.
Uma poesia veio à minha mente.
Não era uma pausa, e não havia ninguém. Para onde haviam ido os sentimentos alheios?
Talvez não me importasse.
A brisa fresca que soprava do oceano em minha face, era como se eu estivesse nos céus, sentindo carícias angelicais sobre mim.
Creio que adormeci, ou fiquei em estado alfa por vários minutos, sentindo o vento e as águas.
Abri meus olhos, estava tudo escuro, uma escuridão digna de um caixão. Mas não era, havia a lua, me guiando pelo céu sem estrelas.
Frases começaram a surgir. Uma melodia pesada ressoava em meus ouvidos. Um órgão, não tenho bem a certeza de que era real. Só sei que eu ouvia.
Meu coração nu continua apaixonado.. Mas ele não bate mais.
O silêncio das lágrimas, é mais alto que os gritos de um amante desesperado.
As perguntas sem respostas, jaziam sobre túmulos enterrados debaixo de águas turvas
O vento estava tão quente, as memórias estavam tão frescas, sem a veracidade dessas mentiras.
Me mostre suas cicatrizes, presságios belos e doces. As feridas em minhas mãos não suportam mais.
A vida começava a padecer, as necrosas começavam a me tomar.
Meu sangue, inocente, puro. Como nunca antes, estava filtrado.
Eu lhe mostrarei meu sangue, minhas lágrimas, se você me abrir seu coração..
As noites são muito longas para você, do que tens medo?
Eu lhe amarei, morto-vivo, impuro, sem alma.
É um futuro cego, para os que não foram abençoados.
Me perguntei, será que se vendesse minha alma ao diabo, ele me conceberia um novo coração?
Sem as rugas do destino, sem as queimaduras desse amor.
Eu gostaria de amar esse mundo, mas apenas o ódio se concentra em mim.
Eu pedi para dormir em paz, mascarando meu verdadeiro rosto.
Eu lutei para me livrar das correntes, mas só conseguia fazê-las me chicotear, mais e mais.
Eu olhei em volta, o mar havia desaparecido, as pedras, haviam desaparecido, e não havia nada além de areia, até onde meus olhos poderiam ver..
Nós estávamos loucos, nós éramos aberrações desesperadas por amor
Eu implorei água para minha sede, mas só havia areia.
Eu descobri que possuia uma missão. Eu não poderia chegar aos céus, nem que os anjos me carregassem em seus braços.
A luxúria não iria curar nenhuma ferida, ninguém poderia curá-lo, a não ser ele mesmo.
Valeria realmente a pena deixar o anjo abrir as asas, quando tudo que eu tinha a oferecer era um mundo sem valor?
Realmente importa quem eu sou agora?
Eu olhei para os lados, olhei para cima, e rezei. Eu joguei a prece mais sincera que minha alma poderia querer.
Eu apenas queria que a chuva caísse, e levasse todos meus sentimentos embora..
Eu apenas queria que a chuva caísse e apagasse meu passado.
Porque você não sabe, o quão doloroso é ter sua alma corrompida, o quão doloroso é ter sua missão interrompida, o quão doloroso é perder boa parte de sua vida.
Meu coração nu e rasgado, clama por perdão.
Minha alma crua e pura, clama por esperança.
Porque anjos e demônios não podem se amar.
Porque eu não posso mais nadar nessa água fervente.
Mesmo que meu coração ainda grite desesperadamente para o mesmo destino anterior.
Porque era tudo que eu queria.
Sem medos, sem frio.
Um mundo com cores intensas.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

- Famous Last Words.

-Pausa-
Vamos esquecer minha jornada por um momento.
Era meia noite, silêncio total.
Ela entrava devagar, ela conhecia meu quarto.
Seus passos eram tão leves, que parecia que seus pés mal tocavam o chão..
Minha cama, minha tumba. Meu cadáver estendido sobre as cobertas escuras, estava frio, muito frio.
Ela se aproximou, sua pele clara e roupas impecavelmente brancas; parecia um anjo. Eu não conseguia me mover, estava congelado.
Ela acariciou meu rosto, suas mãos quentes queimaram minha pele feito fogo. Ela nunca saiu do meu lado.
Palavras queriam ser ditas, mas meus lábios não se moviam. O que eu queria falar? Não sei.
Olhei em seus olhos negros, sem cor, sem vida. Um arrepio subiu a minha espinha.
O resto do quarto começou a queimar, e eu não sentia nada. Apenas sua mão em meus cabelos, mexendo-os suavemente.
Minhas pernas estavam em chamas, e eu não as sentia.
Seu olhar continuava fixo no meu, apenas aproveitando meus últimos suspiros, meu olhar continuava tentando decifrar o seu.
Ea não queimava junto com o resto do quarto, o resto da casa. Parecia estar intacta, em outro plano.
Ouvi um grito, parecia vir lá de fora, mas eu simplesmente não conseguia fazer nada. Estava vidrado.
Ela pegou em minha mão, me levantou e me puxou, para dentro do fogo.
O calor e a fumaça me cegaram. Desmaiei, mas continuei sentindo sua mão segurando forte a minha.
Abri os olhos um pouco depois, estava tudo embaçado.
Tentei respirar, mas não conseguia. Eu não sentia falta do ar. Não havia ar ali para entrar em meus pulmões, mas eu não precisava dele ali.
Meu corpo estava leve, era como se não houvesse gravidade.
Fechei e abri meus olhos novamente, tentei focar a visão. Continuava embaçado, mas estava bem melhor de enxergar.
Foi então que eu a vi, bem na minha frente, flutuando tranquilamente, com aquele sorriso no rosto que eu conhecia tão bem.
Me movi em sua direção, olhei para cima; estava na água. Olhei para baixo, estranhando, e apenas vi uma imensidão escura, era como um beco sem saída.
Nadei mais um pouco, cheguei bem perto dela, segurei suas mãos. Não estavam mais quentes, estavam frias, frias como gelo. Mas elas continuavam queimando minha pele, mas eu não sentia essa dor. Estava entorpecido.
Encostei suavemente meu rosto em seu pescoço, era como se pudesse sentir seu cheiro. Encostei meus lábios levemente em sua boca, um contato superficial, porém profundo.
Meu coração parou.
Voltei a sentir tudo, precisava respirar, sentia as queimaduras arderem.
Tentei nadar para cima, tentei buscar o ar.
Ela segurou meu braço.
Olhei para ela como se implorasse para subir, mas que ela viesse comigo. Ela não cedeu.
O sorriso em sua face desapareceu, sua expressão era séria. Seus cabelos se moviam lentamente, no mesmo ritmo da água.
Minha consciência começava a se perder, olhei fixamente em seus olhos, ela não me amava. Nunca me amou.
Era ódio.
Contrastando fielmente comigo.
Meu anjo estava me levando à morte, eu estava desesperado.
Tudo se apagou.
Perdi a consciência.
Não sei quanto tempo se passou, mas eu abri meus olhos.
Estava num lugar branco, ouvia pessoas falando e um apito irritante.
Pisquei uma ou duas vezes, me acomodei na cama e olhei em volta: estava num hospital.
Ouvi uma voz conhecida falando "doutor, ele acordou!". Olhei para a direção do som, era ela.
Mas como?
Olhei minhas mãos, estavam de fato queimadas, mas apenas onde ela havia encostado. Meu rosto também ardia.
Meu braço estava cheio de agulhas enfiadas, soros e essas coisas todas.
O médico entrou no quarto, encostou em minha testa e perguntou como eu estava.
Então eu não estava morto. Ainda.
Perguntei à ele o que tinha acontecido, ele disse que fui encontrado em minha cama, por ela. Desmaiado, com os pulmões cheios de água e com queimaduras pelo corpo todo. Disse que não sabia como tudo isso havia acontecido, visto que meu quarto estava intacto, e que eu ter sobrevivido era um milagre. Mandou eu agradecer a senhorita de roxo que estava sentada numa poltrona ali na frente.
Não o respondi, arranquei todas as agulhas de meu braço, fazendo-o sangrar bastante. Levantei, andei até ela.
Olhei em seus olhos, ela sabia o que tinha acontecido.
Ela me respondera com um sorriso cínico.
O médico estava pasmo, me olhando como se eu fosse um fantasma.
Encostei no rosto dela, estava gelado e duro. Como se fosse pedra. Resolvi falar.
"Corte suas asas, você já não é mais um anjo."
E saí. Sem rumo, me mudei para bem longe.
Resolvi vagar pela vida, sendo apenas mais um na multidão.
Meu nariz sangrava constantemente, resolvi começar a escrever como era a vida de um fantasma na luz do sol.
-Fim da pausa-
E cá estou, escrevendo.
Tenho cicatrizes das queimaduras, mas não estou mais congelado, e nem afogado.
Apenas sozinho.