segunda-feira, 26 de abril de 2010

- Blue Monday.

Era uma noite fria, mas o céu estava impecavelmente lindo. A Lua contrastando com o negro do céu, as estrelas brilhando incessantemente. Era uma noite perfeita, e eu resolvi usá-la como base.
Fui até a cozinha a casa estava parcialmente escura, apenas um abajur aceso na sala. Pensei em tomar um café, mas eu realmente não gosto disso, café amarga a minha vida. Fiz um chá, bem doce.
Fui até o quarto, e sentei-me perto da janela. Abri-a e deixei o vento gelado acariciar minha face. Estava tudo muito perfeito.
Tomei um gole do chá morno, peguei uma caneta e abri um caderno, iria começar a escrever. Encostei a ponta da caneta na folha vazia, e vi que havia algo errado.
Eu não queria focar no fogo, na morte e no gelo. Não hoje.
Pensei em algo como o Sol e a Lua, mas esse não era meu caso do dia. Iria tentar algo novo, algo que eu nunca havia sentido, algo que não era meu.
Terminei de beber o chá, levantei-me, vesti meu casaco e saí. Saí em busca de sentimentos, sentimentos alheios.
Nada mais interessante do que se basear no que os outros sentem, afinal, eu sei o que sinto, mas não sei o que as pessoas sentem, e isso me soou muito instigante.
Comecei a andar sem rumo, em busca de algo. O vento estava cortante, provavelmente meu rosto estava rosado e meus lábios rachados de tanto frio. Mas continuei minha caminhada.
Parei numa praça, havia um homem sentado. Estava bem vestido, apenas ali parado, observando o nada. Resolvi que ele seria minha primeira vítima.
- Olá.
~ O-oi.
-Bela noite hoje, não?
~ Belíssima, apesar de fria.
- O frio a deixa mais encantadora e misteriosa ainda.
~ Com certeza..
- Então, o que faz aqui uma hora dessas?
~ Ah.. gosto de ficar aqui de vez em quando, a vista é perfeita, é sempre calmo e me ajuda a colocar a cabeça no lugar. E você, o que faz aqui?
- Estava sem inspiração para escrever e vim em busca de sentimentos alheios.. Cansei de falar sobre os meus, se é que me entende.
~ Sei como é..
- Me diz uma palavra, qualquer uma.. Vai me ajudar a ter inspiração.
~ Hm..Deixe-me ver..
- Não, não pense! Fale a primeira que vier à cabeça, que tiver sentimento..
~ Ahn.. Necessidade.
- Obrigado! Isso me ajudou muito.. Já posso começar a escrever. - Acendi um cigarro, traguei-o bem fundo e soltei a fumaça, observando-a se desvanecer.
~ Qual o seu nome? Gostaria de ler alguma obra sua..
- Você não precisa saber meu nome para ler algo meu, apenas lembre-se de sua própria palavra. É ela quem te dirá seu caminho, não o que eu fizer com base nela.
~ ...Mas.. Certo.
-
Larguei o homem sozinho lá de novo, ele ficou me observando por um bom tempo.
Caminhei até achar um banco vazio no meio do nada, peguei meu caderno e minha caneta preta, minha preferida. Comecei a escrever.
Necessidade.. O que farei com necessidade? Qual necessidade seria a do homem que me disse tal palavra? O que ele estaria pensando, ou sentindo?
Necessidade.. Todos sentimos necessidade de algo, todos precisamos de algo.. Mas do quê?
De um amor? De uma dor? De um alimento? De uma bebida? De uma droga?
Ok, os sentimentos alheios são mais complexos do que eu imaginava, mas deixe-me ver..
Eu pensaria na necessidade de uma pessoa, a necessidade de uma paranóia..
Uma obsessão, é uma necessidade?
Talvez eu necessite de uma necessidade alheia para alimentar minha obsessão..
E eu sempre acabo voltando a pensar no gelo,no fogo e na morte.. Mas eu decidi esquecê-los.. Ou nem todos.. Quem sabe? Eu sei, mas não contarei agora.
E você, do que necessita?
Isso é muito vago.. Vou continuar minha caminhada, quem sabe mais palavras, mais pessoas, mais inspiração.. Mais sentimentos.. Puros, imundos, ilustres ou intragáveis, aptos, intactos, perfeitos, malfeitos.. Apenas sentimentos, sentimentos que eu não sinto.
Pois não são meus.

sábado, 3 de abril de 2010

- The Death Of Romance.

Após minha conversa com a morte, eu notei um problema comigo mesmo - O fogo.
Eu estava perdido, era como se nada fizesse sentido, as coisas giravam ao meu redor, a vista ficava embaçada, e tudo ficava cada vez mais quente.
O fogo me queimou, e não deixou apenas cicatrizes, ele me derreteu.
Era quase como se eu o sentisse dentro de mim, queimando, ardendo, provocando. Não havia outro modo de descrever além do fato de que eu estava perdidamente apaixonado pelo fogo.
Ele brilhava, aquela chama me atentava, me puxava, me chamava, me atraia, eu não conseguia escapar.
Dai eu lembrei, mas e a morte e o gelo?
Acho que de tanto calor que o fogo emanava, o gelo acabou derretendo.
A morte deu uma fugida, mas eu sei que ela ainda está perto. Tenho certeza, aliás.
Mas e agora, o que eu faço? Não sei.
Só sei que eu quero continuar me queimando, essa sensação me agrada.
Consigo ver a lua brilhando de um jeito que nunca tinha visto, consigo ver um futuro que nunca havia sonhado, consigo ver tudo mais nítido.
E essa nitidez me apavora. E ironicamente, não me consola.
Meus sentidos estão mudando, e a cada dia que passa, estão ficando mais fracos e fortes.
Depende do ponto de vista.
Mas eu continuarei vivendo a minha vida do jeito que eu quero, sem todas essas formalidades necessárias, odeio burocracia.
Não importa o que diga, não importa o que faça, não importa quem eu ame, eu nunca mudarei.
Por mais que eu sinta e anuncie a mudança, eu continuarei sempre o mesmo, talvez apenas com algumas idéias, histórias e vida a mais.
Desisti dos romances de livros, é quase como uma droga.
E eu estou viciado em tudo aquilo que posso ter, todo aquele poder que a guerra e a manipulação poderiam me dar.
Do jeito mais puro possível.
Muito longe de um jogo, apenas verdadeiro, suave, quase sutil.. Quem sabe.