segunda-feira, 6 de setembro de 2010

- Famous Last Words.

-Pausa-
Vamos esquecer minha jornada por um momento.
Era meia noite, silêncio total.
Ela entrava devagar, ela conhecia meu quarto.
Seus passos eram tão leves, que parecia que seus pés mal tocavam o chão..
Minha cama, minha tumba. Meu cadáver estendido sobre as cobertas escuras, estava frio, muito frio.
Ela se aproximou, sua pele clara e roupas impecavelmente brancas; parecia um anjo. Eu não conseguia me mover, estava congelado.
Ela acariciou meu rosto, suas mãos quentes queimaram minha pele feito fogo. Ela nunca saiu do meu lado.
Palavras queriam ser ditas, mas meus lábios não se moviam. O que eu queria falar? Não sei.
Olhei em seus olhos negros, sem cor, sem vida. Um arrepio subiu a minha espinha.
O resto do quarto começou a queimar, e eu não sentia nada. Apenas sua mão em meus cabelos, mexendo-os suavemente.
Minhas pernas estavam em chamas, e eu não as sentia.
Seu olhar continuava fixo no meu, apenas aproveitando meus últimos suspiros, meu olhar continuava tentando decifrar o seu.
Ea não queimava junto com o resto do quarto, o resto da casa. Parecia estar intacta, em outro plano.
Ouvi um grito, parecia vir lá de fora, mas eu simplesmente não conseguia fazer nada. Estava vidrado.
Ela pegou em minha mão, me levantou e me puxou, para dentro do fogo.
O calor e a fumaça me cegaram. Desmaiei, mas continuei sentindo sua mão segurando forte a minha.
Abri os olhos um pouco depois, estava tudo embaçado.
Tentei respirar, mas não conseguia. Eu não sentia falta do ar. Não havia ar ali para entrar em meus pulmões, mas eu não precisava dele ali.
Meu corpo estava leve, era como se não houvesse gravidade.
Fechei e abri meus olhos novamente, tentei focar a visão. Continuava embaçado, mas estava bem melhor de enxergar.
Foi então que eu a vi, bem na minha frente, flutuando tranquilamente, com aquele sorriso no rosto que eu conhecia tão bem.
Me movi em sua direção, olhei para cima; estava na água. Olhei para baixo, estranhando, e apenas vi uma imensidão escura, era como um beco sem saída.
Nadei mais um pouco, cheguei bem perto dela, segurei suas mãos. Não estavam mais quentes, estavam frias, frias como gelo. Mas elas continuavam queimando minha pele, mas eu não sentia essa dor. Estava entorpecido.
Encostei suavemente meu rosto em seu pescoço, era como se pudesse sentir seu cheiro. Encostei meus lábios levemente em sua boca, um contato superficial, porém profundo.
Meu coração parou.
Voltei a sentir tudo, precisava respirar, sentia as queimaduras arderem.
Tentei nadar para cima, tentei buscar o ar.
Ela segurou meu braço.
Olhei para ela como se implorasse para subir, mas que ela viesse comigo. Ela não cedeu.
O sorriso em sua face desapareceu, sua expressão era séria. Seus cabelos se moviam lentamente, no mesmo ritmo da água.
Minha consciência começava a se perder, olhei fixamente em seus olhos, ela não me amava. Nunca me amou.
Era ódio.
Contrastando fielmente comigo.
Meu anjo estava me levando à morte, eu estava desesperado.
Tudo se apagou.
Perdi a consciência.
Não sei quanto tempo se passou, mas eu abri meus olhos.
Estava num lugar branco, ouvia pessoas falando e um apito irritante.
Pisquei uma ou duas vezes, me acomodei na cama e olhei em volta: estava num hospital.
Ouvi uma voz conhecida falando "doutor, ele acordou!". Olhei para a direção do som, era ela.
Mas como?
Olhei minhas mãos, estavam de fato queimadas, mas apenas onde ela havia encostado. Meu rosto também ardia.
Meu braço estava cheio de agulhas enfiadas, soros e essas coisas todas.
O médico entrou no quarto, encostou em minha testa e perguntou como eu estava.
Então eu não estava morto. Ainda.
Perguntei à ele o que tinha acontecido, ele disse que fui encontrado em minha cama, por ela. Desmaiado, com os pulmões cheios de água e com queimaduras pelo corpo todo. Disse que não sabia como tudo isso havia acontecido, visto que meu quarto estava intacto, e que eu ter sobrevivido era um milagre. Mandou eu agradecer a senhorita de roxo que estava sentada numa poltrona ali na frente.
Não o respondi, arranquei todas as agulhas de meu braço, fazendo-o sangrar bastante. Levantei, andei até ela.
Olhei em seus olhos, ela sabia o que tinha acontecido.
Ela me respondera com um sorriso cínico.
O médico estava pasmo, me olhando como se eu fosse um fantasma.
Encostei no rosto dela, estava gelado e duro. Como se fosse pedra. Resolvi falar.
"Corte suas asas, você já não é mais um anjo."
E saí. Sem rumo, me mudei para bem longe.
Resolvi vagar pela vida, sendo apenas mais um na multidão.
Meu nariz sangrava constantemente, resolvi começar a escrever como era a vida de um fantasma na luz do sol.
-Fim da pausa-
E cá estou, escrevendo.
Tenho cicatrizes das queimaduras, mas não estou mais congelado, e nem afogado.
Apenas sozinho.

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