- Senhora Morte, preciso falar contigo.
- Diga.
- Pergunto-me por que ainda estás aqui ao meu lado.
- Ora, porque eu preciso.
- Mas tu és tão experiente, já vistes de tudo que há nesse mundo, já vira guerras, já passara por derrotas, vitórias, idas e vindas, velhos e novos mundos, já levaste milhares de pessoas, tem tanto o que fazer, mas nunca sai do meu lado, o que eu tenho demais?
- Ora, estou aqui porque te amo. Te amo como vítima, te amo como parceiro, te amo por conveniência. Não é sempre que acho um desses por aí, e essa imortalidade que possuo não muda muito o que eu posso ou não sentir.
- Então a morte não é tão morta quanto parece.
- A morte pode ser muito mais do que apenas morrer.
- Preciso lhe contar algo, senhora morte.
- Diga, meu pequeno mortal.
- O fogo me queimou e o gelo derreteu.
- Como assim?
- O fogo não é apenas quente, ele pode ser muito mais.
- Hn, e o que mais ele pode ser? E o gelo, por que ele derreteu?
- O fogo consegue ser perfeito, mesmo em seus defeitos. Mesmo matando, destruindo, queimando, machucando; ele salva, ama e esquenta. Ele é puro, além as impurezas que comete, por dentro, ele é infinitamente puro.
E eu desisti do gelo, por mais que seja água, e água seja vida, ele é frio demais para me salvar, e distante demais para eu me aproximar. Por mais que estejamos perto, nossas moléculas não se aproximam, indiferente demais, ele não pode me salvar.
- E como você conseguiu ver tudo isso no fogo?
- Deixando-o me queimar, do mesmo jeito que deixei você me matar e o gelo me congelar por algum tempo.
Você sabe que, o gelo me congelou, mas o fogo me salvou, sem me queimar. Mas após ter você perto, acabei deixando o fogo me queimar, para tentar enxergar o que eu nunca consegui. Tudo está mudando, Morte, tudo está mudando.
- Você é estranho, e isso me atrai.
- Por isso que eu odeio você. Ou não.
domingo, 28 de março de 2010
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