quinta-feira, 19 de março de 2009

Can't blame everyone you see, when you only look at me.

Tarde, era tarde demais.
Chovia violentamente lá fora, era praticamente impossível identificar o que havia do outro lado da rua, e eu apenas ali, sentado, observando o que poderia haver lá, afinal realmente não tinha mais nada pra fazer, o bairro todo, se não a cidade inteira, estavam sem luz.
Eu estava totalmente sem sono, e sem vontade de fazer qualquer outra coisa do que ficar parado observando a chuva cair com meu copo de vodka com limão na mão, tentando esquecer, algo que eu mesmo já não sabia o que era.
Dei um gole suave em minha bebida, estava bastante doce; exatamente do jeito que eu gosto.
Doce, é uma coisa tão.. surreal. Eu realmente não tenho palavras para explicar o quanto isso me agrada e, talvez momentaneamente, me deixe um pouco mais feliz.
Continuei a observar a chuva aluir sobre a calçada vazia, mergulhado em pensamentos inúteis, algo do gênero de como a chuva se sentia ao cair do céu e coisas do tipo.
De repente ouço alguém batendo em minha porta, aquela escuridão, quem bateria na minha porta uma hora dessas, nessa chuva e com a cidade inteira apagada?
As batidas continuaram, insistentes, porém calmas. Caminhei tranquilamente até a mesa, peguei uma pequena caneta lanterna, sim eu adoro lanternas, essa caneta em particular, é muito útil em casos como este.
Apertei o pequeno botão que acendia a pequena lanterna e fui em direção à porta. Eu sei que era meio arriscado abrir a portapara algum desconhecido, principalmente porque eu não enchergava um palmo além de onde minha micro lanterna alcançava.
Me aproximei do batente da porta, apoiando delicadamente os dedos sobre a chave; não queria provocar muito barulho, afinal, queria saber quem estava batendo antes de abrir totalmente a porta. Girei a chave com suavidade, deixando apenas uma fresta da porta aberta, acendendo na hora a lanterna e direcionando-a para o rosto do ser que estava do outro lado.
Paralisei. não sabia exatamente mais quem era eu ou em que ano eu estava ou sei lá o que.
Abri minha boca, afim de pronunciar algo, mas apenas saiu um engasgo. Não conseguia falar.
Apenas pensei: mas depois de tanto tempo.. eu não acredito que..
Continuei estático, apenas observando o semblante pouco iluminado que estava na minha frente. Milhares de pensamentos rondando minha mente, milhares de perguntas sendo feitas, milhares de palavras querendo sair de minha boca, mas nada.
Novamente eu tentei pronunciar algo, mas dessa vez apenas conseguiu sair um "..mas por quê..?" meio indecifrável.
Recebi em resposta um "você sabe o porque." e fui tomado em um beijo, um dos melhores de minha vida, transbordando paixão e saudades. No susto, soltei a lanterna e qualquer pingo de sanidade que havia em minha alma.
O ósculo feneceu-se. Senti minha consciência voltando à realidade, podia sentir meus músculos de novo.
Andei rapidamente para a mesa,onde se encontrava meu copo parcialmente cheio, peguei-o e bebi numa só golada. Estava nervoso demais para pensar sem álcool.
Andei para a cozinha, pegando uma pequena vela e acendendo-a, colocando-a sobre um castiçal que havia sobre um balcão. Sinalizei para que entrasse e se sentasse. Ele o fez, fechando a porta logo depois de entrar.
Sentei-me numa poltrona perto, podendo visualizar na escuridão seu rosto, tinha uma expressão de medo e rubor, ao mesmo tempo que possuia um jeito frio e decidido.
Apenas perguntei:
- Mas por quê? Por que agora, por que hoje, por que essa hora, por que tudo.
Ele sorriu, aquele mesmo sorriso que eu adorava ver alguns anos atrás, logo ele prosseguiu, declamando gentilmente:
- Você sabe o porque. Sempre soube.
Levantei uma sobrancelha, estava meio confuso, especulei algo, mas preferi fingir que não sabia do que se tratava.
- Mas que? Se soubesse não estaria perguntando, nee.
Ele me jogou um olhar como se já soubesse que eu iria falar aquilo, afinal, ele me conhecia bem o suficiente para saber que eu sempre perguntava as coisas e me fazia de desentendido, mesmo sabendo exatamente sobre o que se tratava.
- Eu consegui. Depois desse temp todo, eu finalmente consegui.
Arregalei os olhos, senti minha respiração travar por um segundo, pensei: "não, ele não pode ter conseguido..não tinha como.." gaguejei um pouco, mas consegui falar sem que ele percebesse minha surpresa.
- Como..?
- Não importa agora. O que importa é que eu consegui, eu encontrei.. Agora posso ser só seu, eu me guardei todo esse tempo para você, eu sabia que iria conseguir. Você topa?
Senti uma vontade imensa de chorar naquele momento. Não podia acreditar que ele tinha se guardado.. para mim.. Senti meu coração voltar a bater com força, como era antigamente.
- Eu.. eu.. não sei o que dizer.. mentira! Eu sei sim.
- Então, me diga..
- Eu quero, não suportaria perder-lhe novamente.
- Dessa vez será eterno, você sabe que não poderá voltar..
- Sim! Eu sei. Mas mesmo assim.. por você, qualquer coisa seria o suficiente, não me importo em perder tudo que tenho aqui, por você.. jamais relutaria.
- Então venha, não precisa pegar nada.. a terra dos sonhos está próxima..
Ao anunciar tais palavras, ele me beijou novamente. Dessa vez com menos vergonha e mais vontade, abraçando-me com todo o sentimento que habitava em sua alma, fazendo-me esquecer de tudo e de todos que conhecia, não podia mais sentir meu corpo, apenas uma leveza sobrenatural.
Pensei em falar algo, mas o que estava havendo naquele momento era tão.. mágico e inesquecível, que eu não poderia, nunca, jamais, sequer pensar em interromper.
Não sei de mais nada depois disso.
...
Alguns dias depois, encontraram meu corpo, já estava começando a se decompor, meus melhores amigos observaram-me com um grande pesar, apenas choraram, já que não havia nada que coubesse-lhes a fazer.
Me senti mal por fazê-los sofrerem, mas eles não sabem o quanto eu me senti feliz, e estranhamente.. livre.
Eu encontrei minha terra dos sonhos.

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